Sotero chega à Salvador para resgatar cozinha de raiz
Sob
o comando do chef Rafael Sessenta, restaurante traz no cardápio pratos com
ingredientes e temperos que remontam à gastronomia tradicional da Bahia.
Acarajé, abará, camarão e vatapá. |
Nos
alto-falantes, Vinicius de Moraes e Toquinho entoam Garota de Ipanema em um
brinde aos que entram pelas altas portas de madeira do Restaurante Sotero –
Cozinha de Origem. Localizado no centro do boêmio Rio Vermelho, o espaço traz
para Salvador a proposta do chef Rafael Sessenta de resgatar elementos
tradicionais da gastronomia baiana.
Terceiro
da franquia – criada em 2009, a marca também está em São Paulo, nos bairros
Higienópolis e Cidade Jardim atualmente comandados pelo filho do chef, Rafael
Spencer –, o Sotero inaugurou na capital baiana no início de outubro e, desde
então, tem movimentado a culinária soteropolitana. “Voltei para a Bahia, para
minha cidade”, anuncia o chef Rafael Sessenta. Depois de sete anos longe do
lugar onde nasceu e cresceu, Sessenta retorna com a ideia de criar um ponto de
encontro em Salvador, no qual estarão reunidas música brasileira, cozinha de
raiz e boas companhias.
“Eu
prezo pela gastronomia. Meu foco aqui é a cozinha da Bahia. Coloquei todo esse
continente que é a Bahia dentro do meu restaurante”, afirma Sessenta. A
originalidade da casa perpassa seu misto de cores vibrantes e decoração
sofisticada, até chegar ao principal: o cardápio. Ali, o chef Rafael Sessenta
apresenta um leque de pratos que evocam tempos de outrora: arroz de hauçá, efó,
acaçá, bolinho de estudante e maniçoba figuram ao lado de conhecidos como
moquecas de frutos do mar e acarajé.
"Punhetinha" - bolinho de estudante com baba de moça e sorvete de tapioca com recheio de doce de leite. |
“Meu
cardápio é muito específico. É a assinatura do Sotero. A Bahia não é só coco e
dendê. É buscar toda uma cozinha”, explica o chef. “Estou buscando a origem da
cozinha baiana. Meu foco é o resgate dessa cozinha, coisa que não se vê mais
aqui”. Na busca pelo melhor dos ingredientes, Rafael Sessenta conta que acorda
cedo para buscar pescados frescos, essenciais à culinária que leva sua
assinatura. E é na Feira de São Joaquim que, ao menos uma vez por semana, o chef
vai para comprar os temperos e especiarias que compõem seus pratos.
Espaço Cultural
Rafael Sessenta, chef do Restaurante Sotero, no espaço do happy hour. |
Desde
os 12 anos, Rafael Sessenta descobriu na cozinha sua vocação. Sua mãe era de
Salvador e o pai, com quem primeiro aprendeu a cozinhar, era de Castro Alves.
Foi no interior que os cheiros e as misturas chamaram sua atenção. “Via meu pai
desde cedo, principalmente na fazenda. Aquele cheiro... Ele era um alquimista”,
relembra. Das suas cinco irmãs, apenas Sessenta se interessou pela gastronomia
– gosto que passou para seu filho, o chef Rafael Spencer, que administra hoje
as cozinhas do Sotero em São Paulo ao lado do irmão, Ricardo Spencer, diretor
de clipes e da série global Mr. Brau.
A
inserção de Rafael Sessenta no mundo da cultura e das casas repletas de vida,
no entanto, não começou com o Restaurante Sotero. Quando tinha apenas 18 anos,
o chef abriu sua primeira boate em Salvador, o Anjo Azul, onde recebeu nomes
como a atriz francesa Brigite Bardot, Dorival Caymmi, Chacrinha, Pelé, Cauby
Peixoto, Silvio Santos e Jorge Amado, com quem costumava jogar poker – “Ele
dizia que só jogaria se eu fizesse o malassado”, brinca Sessenta. É um pouco
dessas histórias, combinadas com suas receitas e criações favoritas, que o chef
conta no livro “Memórias de Um Homem na Cozinha”, publicado pela Editora
Contexto e Arte em 2006.
Outras atividades
Além
das combinações originais, o Restaurante Sotero apresenta espaço para happy
hour, com direito ao acarajé fabricado pela casa, transmissão de jogos de
futebol – incluindo os do Bahia, time do coração de Sessenta – e pratos
executivos com preços especiais para o horário do almoço. Aos sábados, sempre
das 12 às 16 horas, os clientes podem aproveitar o Samba do Sotero – uma
feijoada tradicional acompanhada de samba de raiz.
O Sotero, Cozinha de Origem. |
O Sotero –
Cozinha de Origem apresenta ainda um espaço destinado a outra das grandes
paixões de Rafael Sessenta: ensinar. Membro da Associação de Chefs Latino
Americanos (ACLA), o chef pretende abrir um espaço na varanda do restaurante
para ministrar aulas de gastronomia. “Adoro ensinar, adoro ter esse contato”,
explica Sessenta, que preza e passa para seus alunos a vertente “não gourmet”
da gastronomia. “Cozinha não é moda, é arte”, pontua. “A moda, ao meu ver, é
muito prejudicial à gastronomia. Eles querem inovar tanto que misturam dendê
com maionese”.
No
início de 2017, Sessenta lançará seu segundo livro, o resultado de mais de 20
anos de pesquisa na culinária de raiz.
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