Café na coquetelaria ainda não atingiu seu potencial, dizem especialistas
Apesar da popularidade de drinks como Espresso
Martini e Carajillo, questões como o tempo de preparo no bar e conhecimento
sobre as possibilidades do café ainda são desafios.
Colaboração de texto e foto: Giulia Marini/KB!COM
De acordo com a
Organização Internacional do Café (OIC) o Brasil é o segundo maior consumidor
de café no mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Por outro lado, uma
pesquisa do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da
população tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas. Era natural que, em
algum momento, esses universos se encontrassem e, apesar de não serem
novidades, os drinks com cafés vêm avançando na coquetelaria. Segundo
especialistas, entretanto, o cenário ainda não explora todas as possibilidades
que esse casamento oferece.
Mas se o brasileiro é apaixonado por café e as
cartas dos bares e restaurantes estão cada vez mais inventivas, criativas e
plurais, o que falta para que as bebidas que têm o grão como ingrediente base
ganhem mais espaço? Seria porque ainda há uma questão cultural forte de
associar o café ao dia e à rotina matinal? É preciso maior especialização por
parte dos proprietários e bartenders? Esses foram alguns temas discutidos por
Carolina Oda, especialista em bebidas, Kelly Stein, jornalista e empresária do
café, e por Marco de La Roche, mixologista da Drink.Lab, no episódio especial
sobre café do podcast do BCB São Paulo.
Para Kelly Stein, “o próprio mercado de café
começou a olhar para a coquetelaria de forma diferente, mas isso não significa
uma aplicação prática. Vejo baristas se interessando mais pelo produto desde o
ano passado, mas isso está longe do ideal”, diz. Já Marco de La Roche, que
também é diretor de educação do BCB São Paulo, pondera: “eu entendo os
profissionais que gostariam que o café vendesse tanto quanto a caipirinha, mas
não dá, tem a questão da ocasião de consumo. Entretanto, já existe um caminho
sendo trilhado. Um exemplo é o Carajillo, drink com dois ingredientes, espresso
e licor 43, que tem vendido bastante a ajudado a chamar a atenção para este
movimento”.
Sobre a praticidade de extração do café em meio
a correria de um bar, uma das questões que mais preocupam os profissionais do
setor, Kelly sugere alternativas. “Em alguns locais, como o bar Fechado, os
sócios decidiram investir na presença de um barista. Entendendo que nem todos
tenham espaço e recursos para algo nesse sentido, então as máquinas
semiautomáticas podem ser uma solução, ou métodos de preparo que não ocupam
muito, como o aeropress”, comenta.
Marco de La Roche complementa com etapas
capazes de acelerar o processo. “O espresso pode ser pensado como o risoto na
cozinha, onde você tem um pré-preparo e depois a finalização na hora de servir.
Claro que, nas entrelinhas, existem muitas variáveis, como a maneira de baixar
a temperatura e também a preocupação com a diluição. Contudo, já fiz testes que
deram certo, tanto para o Espresso Martini como Carajillo. Alguns bares já
deixam pronto uma garrafa pequena com 6 espressos, para atender a média de
drinks diária no seu bar, e servir com equilíbrio de 50 ml de espresso para
outros 50 ml de licor”, detalha o mixologista.
Dando continuidade as saídas para a operação
com café, Carolina Oda questionou os especialistas sobre o uso de cafés
solúveis. Kelly Stein defendeu que, sim, esse é um recurso que pode ser
considerado, principalmente pela evolução deste tipo de produto, mas com uma
ressalva importante. “É preciso ter claro que esse é um método de preparo. Ou
seja, se você tem matéria-prima ruim, o resultado também será ruim. Isso também
vale para a máquina ou café coado. Outra coisa importante é que café não
necessariamente é amargo. É preciso fazer testes e frequentar cafeterias para
entender esse leque, essa biblioteca sensorial que o café pode oferecer e que,
tecnicamente, é algo mais complexo que o vinho”, finalizou.
O episódio completo, com essas e outras
abordagens sobre o universo do café na coquetelaria, já está disponível
gratuitamente na plataforma BCB On Air. Para ouvir, basta clicar aqui. O
credenciamento para o principal evento de destilados da América Latina também,
confirmado para os dias 05 e 06 de junho, na Bienal do Ibirapuera, já está
aberto. Para fazer o registro, destinado exclusivamente aos profissionais do
setor de bebidas, é preciso acessar este link oficial.
Café na coquetelaria ainda não atingiu seu potencial. |
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