Escassez e complexidade fizeram do Pinot Noir
um novo símbolo de status.
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Escassez e complexidade do Pinot Noir. |
Colaboração de texto e charge: Claudio Goldberg/G Plux
Os colecionadores de vinho gostam de proclamar
que “todos os caminhos levam à Borgonha”, mas se esquecem de que no início do seus
hobbies nem sempre se tomavam os melhores tintos da região. Na América do norte
e na Austrália, o caminho de entrada no mundo do vinho são os vinhos pesados e
alcoólicos que têm gosto de ameixa, ou amora.
Carregam a marca de baunilha, ou mocha de barris de carvalho e devem ser
bebidos dentro de alguns anos após o engarrafamento.
À medida que se ganha experiência, naturalmente
começa-se a procurar opções francesas de menor octanagem, como Cabernet Sauvignon de Bordeaux, em vez de
Napa Valley norte americano; Rhône Syrah em vez de Barossa Shiraz da Australia.
Mas, quando se valoriza a complexidade e a delicadeza sobre o potência, seu
destino leva a Borgonha.
O conhecimento enciclopédico do vinho na
Borgonha é mais valorizado no mundo do vinho. A região francesa é dividida em
centenas de vinhedos. Por sua vez, uma miríade de produtores possui linhas
específicas dentro de cada vinhedo, a partir das quais todos eles fazem vinhos
únicos. Isso leva a produção anual de no máximo poucas milhares de garrafas de
vinho.
Além disso, o tinto da Borgonha consiste na uva
de Pinot Noir, uma uva com um padrão de envelhecimento enlouquecedor. Após
alguns anos de armazenamento esta uva tende a “desligar” e perder o sabor e
floresce depois de algumas décadas. Mas, por vezes, nunca “acorda” do sono, o
que torna o desafio desta uva ainda maior.
No passado, a complexidade e a pequena produção
da Borgonha a relegaram a um nicho de mercado. Bordeaux, que produz menos
vinhos diferentes em lotes maiores, tornou-se popular na Ásia e os preços
decolaram. Mas, em 2012, quando o governo da China proibiu presentes luxuosos a
bolha do vinho estourou e as vendas para a Asia diminuíram drasticamente.
Assim, à medida que a preferência do Bordeaux
diminuiu na Ásia e no Ocidente, ganhou importância dominar o tinto da Borgonha.
Porém, a vasta gama de vinhos desta região, com raridades tão escassas quanto 300
garrafas por ano, tornam os dados de preço difíceis de encontrar. Entre as
centenas de belos tintos da Borgonha, o mercado global do Liv-ex, por exemplo,
inclui apenas 11 em seu índice regional de preços. Ou seja, uma combinação de
pouca produção, vasta variedade e pouco conhecimento leva a uma escalada
constante dos preços dos vinhos da Borgonha.
Em termos financeiros, a valorização dos tintos
da Borgonha para os produtores cresceu aceleradamente nos últimos 20 anos.
Entre 2003 e 2018, os tintos da Borgonha retornaram em média 497%, contra 279%
do S&P 500 (bolsa de valores americana) e 214% do tinto de Bordeaux e do
Champagne. É claro que estas comparações são sempre passiveis de crítica, mas o
que se deseja mostrar é a evolução do retorno financeiro do investimento nos
vinhos tintos da Borgonha. O índice do Borgonha também tem sido menos volátil
do que as ações, embora isso possa ser um defeito da metodologia do seu
cálculo.
É difícil entender como a Borgonha pode manter
tal apreciação. Muitas pessoas podem comprar uma garrafa de US$ 300. Mas a US$
3.000, o mercado depende dos caprichos dos mais abonados. Mesmo que os preços
das ações da bolsa tendam a subir, será difícil bater o retorno financeiro dos
produtores de tinto na Borgonha. Como exemplo, os conglomerados de luxo Kering
e LVMH, cujos proprietários compraram vinhedos da Borgonha, tiveram retorno do
investimento de 958%, entre 2003 e 2018, em contrapartida a 2% de rendimento
com os dividendos pagos pelos conglomerados nos últimos anos. Dito isso,
podemos concluir que a melhor maneira de ganhar dinheiro na Borgonha é
provavelmente fazer vinho, não comprá-lo.
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